Aporofobia: o ódio aos pobres


Aporofobia é um neologismo inventado pela filósofa Adela Cortina, professora catedrática de Ética e Filosofia Política da Universidade de Valência. A palavra nos parece estranha, seja ortográfica, seja foneticamente, mas tem a proeza de nomear uma realidade nefasta e ignóbil. Foi escolhida a palavra do ano de 2017, pela Fundação Espanhola Urgente.

O vocábulo, elaborado pela professora Adela e usado em diversos artigos, livros, entrevistas e palestras, é composto pela junção de dois diferentes termos, emprestados da língua grega, e se propõe a identificar uma fobia, um medo, uma patologia social que se manifesta na aversão a alguém que é percebido como portador de determinado atributo, origem, comportamento, aspecto ou traço, como são exemplos a homofobia, a islamofobia, a xenofobia. “Aporofobia”, do grego á-poros, sem recursos, indigente, pobre; e fobos, medo; refere-se ao medo, rejeição, hostilidade e repulsa às pessoas pobres e à pobreza.

O vídeo abaixo é um exemplo eloquente do ódio e do nojo pelos pobres, retrata a “invasão” das praias da zona sul carioca, nos idos dos anos 80, por um grupo de pessoas do subúrbio que chegam em ônibus apinhados, para usufruírem de um dia de sol e mar.

No mencionado vídeo, podemos contemplar falas de extremo preconceito, repulsa e nojo aos pobres. Uma jovem carioca se sentiu ultrajada pela “invasão” de sua praia: “uns ônibus horrorosos, com pessoas completamente horríveis que saem de dentro dos ônibus e vão lá sujar a praia … É uma gente sem educação mesmo, não pode tirar o pessoal do Meier e do Mangue e levar para ir a Copacabana … Eu não posso conviver com pessoas que não têm o mínimo de educação … É uma gente suja, você olhar para a cara dessas pessoas dá vontade de fugir … Eu tenho horror de olhar para estas pessoas e saber que estão no meu país, um horror, não são brasileiros não, são uma sub-raça”.

Portanto, o preconceito de classe e o nojo por outro grupo social, promove uma hierarquização, na qual um dos grupos, no caso o dos pobres, é visto como algo fora do lugar e dotado de inferioridade.

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